Fecho os olhos, procuro-te no escuro mas deixas-te um vazio no teu lado da cama. Acendo as luzes e tento encontrar-te. Peso os pós e os contras, rezando para que haja algo que ainda te prenda a esta cidade, algo que ainda te prenda a esta casa, algo que ainda te prenda a esta pessoa que sou, algo que ainda te prenda a esta relação que temos, ou tínhamos...
Talvez tenhas ido buscar o nosso pequeno almoço, talvez tenhas ido comprar um livro para me oferecer, talvez tenhas ido passear o nosso cão, talvez tenhas ido convidar a tua mãe para jantar connosco. Talvez estejas quase a chegar a nossa casa, talvez estejas a correr para aqui para me agarrares de novo, talvez estejas preso no trânsito a morrer de saudades da vista do nosso quarto. Talvez queiras assustar-me para me fazeres uma surpresa, talvez queiras encontrar a tua aliança perdida no parque enquanto apanhavas umas flores para pôr na jarra da nossa mesa, talvez queiras voltar. Talvez não...
Esperei o dia todo sentada à porta do nosso prédio, esperei que atendesses o telemóvel. Esperei por um sinal da tua voz musical, por um sinal do teu cheiro inconfundivelmente ameno, por um sinal do teu olhar doce, por um sinal do bater descompassado do teu coração rebelde, esperei por um sinal de ti. Mas nada de ti apareceu.
Então saí à tua procura, saí feita uma louca no carro que me tinhas dado no Natal, saí já passavam das horas de jantar, saí a olhar para todo o lado querendo encontrar-te, saí para voltar a ver-te, saí para voltar a ter-te. Mas não te encontrei.
Perdi as esperanças, perdi as forças, perdi a alegria, perdi a vivacidade que tanto gostavas em mim, e acabarei por perder a vida. Juro que não fiz de propósito, juro que não vi a luz vermelha no semáforo. Juro que não vi aquele camião a atravessar o cruzamento. Juro que não me quis matar, não naquele segundo.
Mas neste hospital recebi um telefonema teu. Disseste que te tinhas perdido pela cidade quando tentavas encontrar o café que vendia os meus biscoitos favoritos e que não tinhas bateria no telemóvel. Disseste que te sentias culpado e que vinhas a caminho e desligaste sem me dar tempo para falar.
Sei que não chegarás a tempo, a nossa casa ainda é longe e o meu coração está a bater muito devagar. Acho que não voltarei a ver os teus olhos cinzentos postos em mim, a condizer com a doçura do teu sorriso. Acho que não conseguirei dizer-te o que tentei dizer-te desde este fim de semana. Acho que não poderei ver a tua felicidade quando soubesses que ias ter um filho. Acho que agora também não poderás tê-lo, ele sofreu comigo aquele acidente.
Morrerei sem ti ao meu lado. Morrerei sem te dar um último beijo. Morrerei sem repetir uma vez mais que te amo. Mas morrerei feliz por saber que te tive.
Amo-te Nuno.
Nuno encontrou esta carta ao lado do corpo sem vida de Leonor. No rosto dela ainda se via a lágrima que teimara em rolar. Ele fechou os olhos e disse:
-Desculpa Leonor, desculpa por ter saído sem te avisar, desculpa por te ter feito sair daquela maneira, desculpa por ter causado a tua morte. Vou para perto de ti e do nosso filho mais rápido do que é possível.
Meia hora depois encontraram o corpo de Nuno deitado em cima do de Leonor. Este usara o pequeno punhal que tinha como porta chaves para se esfaquear bem no coração.
Dizem que não há vida depois da morte, mas todos choraram ao pensar que ele partira para ser feliz.
Talvez tenhas ido buscar o nosso pequeno almoço, talvez tenhas ido comprar um livro para me oferecer, talvez tenhas ido passear o nosso cão, talvez tenhas ido convidar a tua mãe para jantar connosco. Talvez estejas quase a chegar a nossa casa, talvez estejas a correr para aqui para me agarrares de novo, talvez estejas preso no trânsito a morrer de saudades da vista do nosso quarto. Talvez queiras assustar-me para me fazeres uma surpresa, talvez queiras encontrar a tua aliança perdida no parque enquanto apanhavas umas flores para pôr na jarra da nossa mesa, talvez queiras voltar. Talvez não...
Esperei o dia todo sentada à porta do nosso prédio, esperei que atendesses o telemóvel. Esperei por um sinal da tua voz musical, por um sinal do teu cheiro inconfundivelmente ameno, por um sinal do teu olhar doce, por um sinal do bater descompassado do teu coração rebelde, esperei por um sinal de ti. Mas nada de ti apareceu.
Então saí à tua procura, saí feita uma louca no carro que me tinhas dado no Natal, saí já passavam das horas de jantar, saí a olhar para todo o lado querendo encontrar-te, saí para voltar a ver-te, saí para voltar a ter-te. Mas não te encontrei.
Perdi as esperanças, perdi as forças, perdi a alegria, perdi a vivacidade que tanto gostavas em mim, e acabarei por perder a vida. Juro que não fiz de propósito, juro que não vi a luz vermelha no semáforo. Juro que não vi aquele camião a atravessar o cruzamento. Juro que não me quis matar, não naquele segundo.
Mas neste hospital recebi um telefonema teu. Disseste que te tinhas perdido pela cidade quando tentavas encontrar o café que vendia os meus biscoitos favoritos e que não tinhas bateria no telemóvel. Disseste que te sentias culpado e que vinhas a caminho e desligaste sem me dar tempo para falar.
Sei que não chegarás a tempo, a nossa casa ainda é longe e o meu coração está a bater muito devagar. Acho que não voltarei a ver os teus olhos cinzentos postos em mim, a condizer com a doçura do teu sorriso. Acho que não conseguirei dizer-te o que tentei dizer-te desde este fim de semana. Acho que não poderei ver a tua felicidade quando soubesses que ias ter um filho. Acho que agora também não poderás tê-lo, ele sofreu comigo aquele acidente.
Morrerei sem ti ao meu lado. Morrerei sem te dar um último beijo. Morrerei sem repetir uma vez mais que te amo. Mas morrerei feliz por saber que te tive.
Amo-te Nuno.
Nuno encontrou esta carta ao lado do corpo sem vida de Leonor. No rosto dela ainda se via a lágrima que teimara em rolar. Ele fechou os olhos e disse:
-Desculpa Leonor, desculpa por ter saído sem te avisar, desculpa por te ter feito sair daquela maneira, desculpa por ter causado a tua morte. Vou para perto de ti e do nosso filho mais rápido do que é possível.
Meia hora depois encontraram o corpo de Nuno deitado em cima do de Leonor. Este usara o pequeno punhal que tinha como porta chaves para se esfaquear bem no coração.
Dizem que não há vida depois da morte, mas todos choraram ao pensar que ele partira para ser feliz.
